Manter a saúde emocional

Fatores sociais tornam as pessoas mais vulneráveis às doenças emocionais, e a pandemia do novo coronavírus nos colocou em uma situação singular: o isolamento social que traz, além das preocupações quanto à saúde física, ao sofrimento psicológico pela mudança de rotina, de comportamento, prejuízos financeiros, distanciamento dos entes queridos e outras situações que podem ser vivenciadas pelas famílias e em especial pelos profissionais da saúde e outros trabalhadores da área,  envolvidos no combate a esse flagelo chamado covid-19.

         A Covid-19 tem inúmeros desdobramentos que afetam de formas diferentes as pessoas contaminadas ou não, e entre eles estão os distúrbios emocionais como ansiedade, depressão e estresse que também causam transtornos à saúde.

        A Sociedade Portuguesa de Beneficência de Santos mantenedora dos hospitais Santo Antônio e Santa Clara, conta com um com as psicólogas Aline Ferreira e Renata Reis.

“Quando tudo isso passar, gestos simples
como aperto de mão, serão muito mais valorizados”

       Para saber como cuidar das emoções em tempos de pandemia para nos reencontrarmos em equilíbrio mental e psicológico quando tudo isso passar, recorremos através de uma entrevista, à psicóloga Aline Ferreira, da Sociedade portuguesa de Beneficência (ela desenvolveu um projeto de acolhimento aos colaboradores da Instituição, o “Cuidando de quem cuida” com atendimento através de terapia online),  para nos orientar como lidar com os transtornos emocionais nesse momento tão impar em que vivemos. Confira

De que forma a pandemia afeta a saúde emocional das pessoas?

Aline Ferreira -Tudo que nos tira a liberdade de escolha nos afeta. Imagine algo que tenha esse poder somado a insegurança de uma doença que não se sabe muito bem como controlar. Esse sentimento de impotência invade cada um e faz com que muitos medos surjam. Medos reais e medos irracionais que se tornam gatilho para o descontrole emocional e para as doenças psicológicas.

 Quais os principais transtornos emocionais?

Aline Ferreira – Importante deixarmos claro que nem todas as pessoas desenvolvem transtornos emocionais em meio a uma situação atípica como a que vivemos e que não existe uma ” receita de bolo” explicando cada uma delas. Tudo é relativo e varia de pessoa para pessoa. Se pensarmos em choque, em medo, insegurança, pânico que são sentimentos muito presentes nesse momento, e também na falta de habilidade de lidar com eles, as pessoas podem vir a desenvolver crises de ansiedade, síndrome do pânico, crises de estresse, aumento de uso de substâncias licitas e ilícitas.

 Existe algum (transtorno) mais passível ao momento em que vivemos ou todos têm o mesmo peso e podem se desenvolver na mesma proporção?

Aline Ferreira – Não existe um tipo específico. Cada pessoa reage de uma maneira com aquilo que de alguma forma os afeta. O peso e o desenvolvimento de um transtorno são mensurados de acordo com o grau do que é sentido por cada indivíduo.  

O bombardeio de notícias sobre a pandemia afeta o emocional das pessoas?

Aline FerreiraSim. Afeta e muito. Partindo do princípio de que cada indivíduo reage de uma maneira frente as suas inseguranças e medos, ele também tem uma interpretação única para as notícias que chegam. Se ele já está com preocupação, com medo, inseguro à medida em que as informações chegam, todos esses sentimentos acabam por abrasar, ou seja, crescem de maneira imensurável. Se torna importantíssimo que as informações sejam selecionadas, de fontes confiáveis, com um tempo determinado pra ler e ver esse tipo de reportagem.

Como os profissionais da saúde podem se proteger e se fortalecer emocionalmente nesses tempos de pandemia?

“Falar sempre será a melhor forma de liberar aquilo
que não nos faz bem”.

Aline Ferreira – A proteção emocional para o momento é procurar encontrar momentos para fazer algo que goste, se permitir, sentir seja qual for a sua emoção, procurar por auxilio em pessoas que amam, ainda que seja auxilio virtual, buscar estreitar laços afetivos, conversar com as demais pessoas e procurar por auxilio profissional como psicólogos para que eles possam trazer à tona seus medos e inseguranças. Não esqueçam que por atrás da armadura de um profissional da saúde, existe um ser humano como qualquer outro.

Diante do isolamento precisamos lembrar de cuidar das nossas emoções, que podem muitas vezes ficar em último plano. Mas como manter a saúde mental em tempos tão difíceis?

Aline Ferreira – As condutas são as mesmas para profissionais da saúde ou para qualquer outra pessoa. Todos nós possuímos singularidades, crenças, formas de ver o mundo e em geral quando estamos em situação de risco temos como tendência sempre ver o lado ruim. O momento pede estarmos “juntos” de pessoas que nos fazem bem, limitar o acesso à informação e conversar. Falar sempre será a melhor forma de liberar aquilo que não nos faz bem.

 É possível sair fortalecido da pandemia?

Aline Ferreira – Sim. E eu espero muito que isso aconteça. Após o caos ter um controle, será enriquecedor o novo olhar que todos teremos para a valorização da vida, das pessoas, de atos simples como um aperto de mão que hoje não podemos dar. Será gratificante para esses profissionais que estão na linha de frente, olhar pra trás e terem a certeza que, se o controle chegou, cada um deles tem uma participação na conquista. Todos vamos passar por transformações sejam elas como pessoas ou profissionais.

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